17 – A mensagem de Ezequiel.
Ez 33,21-29 [0 anúncio da queda de Jerusalém]
21No décimo primeiro ano de nosso cativeiro, no dia cinco do décimo mês, veio o fugitivo de Jerusalém até mim, dizendo: "A cidade foi tomada!" 22A mão do Senhor esteve sobre mim na tarde anterior à vinda do fugitivo, e minha boca se abriu de manhã, quando ele veio até mim. A boca me foi aberta e não tornei a ficar mudo.
23Então a palavra do Senhor veio a mim nestes termos: 24Filho do homem, os que moram naquelas ruínas, sobre a terra de Israel, andam dizendo: `Abraão era um só e ganhou a posse desta terra. Mas nós somos muitos! É a nós que o país foi entregue como herança'. 25Por isso dize-lhes:
Assim diz o Senhor Deus Comeis carne com sangue, levantais os olhos aos ídolos, derramais sangue e tereis a posse da terra? 26Vós vos apoiais na espada, praticais abominações, manchais a mulher do próximo e haveríeis de ter a posse da terra? 27Assim lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus: Juro por minha vida:
os que estão entre as ruínas tombarão pela espada, os que estão no campo serão entregues como pasto aos animais selvagens e os que estão nos fortins e cavernas morrerão de peste. 28Tornarei o país uma desoladora solidão, de modo que cessará o orgulho de sua força. Os montes de Israel ficarão desertos, sem que ninguém por eles transite. 29Saberão que eu sou o Senhor quando reduzir o país a uma desoladora solidão, por causa de todas as abominações que praticaram.
Roteiro especial
1 – Leitura do texto: Ez 33,21-29
2 – Situar o texto no tempo e no espaço.
O profeta Ezequiel está no cativeiro na Babilônia com um primeiro grupo de exilados que chegou onze anos antes. Então chegou a notícia inimaginável da queda de Jerusalém. Os habitantes de Jerusalém se achavam invencíveis. Por que? O que eles diziam (versículo 24)?
3 – Olhar a situação do povo.
Como se fosse um filme Ezequiel volta atrás no tempo (v.23-24) e relembra a conduta do povo antes da guerra e da queda de Jerusalém. - Quais são as abominações praticadas pelo povo?
Na boca de Deus temos uma descrição da guerra. Três grupos serão massacrados. Quais são?
- Como ficará o país depois da invasão em 586 a.C.?
4 – A mensagem do texto
Três fundamentos da fé de Israel desapareceram: a posse da terra santa, a dinastia de Davi e o templo. Por que Deus permitiu esta catástrofe?
5 – Escutar a mensagem para nós.
Na vida cristã atual quais são as crises que abalam a fé das pessoas?
Tempo de crise é tempo para voltar aos valores fundamentais da fé? Quais os valores fundamentais da fé cristã?
6 – Momento de oração.
Vários Salmos são testemunhas de tempos de crise. Sl 12;14;74. Vamos rezar o Sl 79 com o texto de hoje podemos entender o pedido de revanche do povo.
(Ler o texto seguinte em casa)
Experiência espiritual na Bíblia.
6. O exílio e o imediato pós-exílio — Na lógica da história de Israel, parecia um absurdo a eventualidade do exílio. Seria a destruição de todo o plano salvífico de Deus, iniciado durante o êxodo com inúmeros prodígios; seria um desmentido de todas as promessas de Deus (e Deus não pode desdizer-se):
a promessa da terra, o juramento de fidelidade à casa de de Davi, a estabilidade do templo. Ora, tudo isso que parecia absurdo, que parecia fora da lógica de Deus, aconteceu. Acima de qualquer outra desgraça ou infelicidade" o exílio suscitou, pois, um problema teológico, um problema de fé: é mesmo o Senhor, o Deus salvador? Ele ainda se mantém fiel às suas promessas?
Para responder a estas interrogações, Israel reconsiderou toda a sua fé, sua tradição, sua legislação e sua história. Todos os livros do AT permitem-nos ver — uns mais, outros menos — este ingente trabalho de reconsideração. O que parecia absurdo, o que parecia o fim da fé, constituiu deste modo um grande salto à frente para a própria fé.
O exílio — e talvez ainda mais a situação de tensão que veio depois da volta à pátria — fez com que Israel tomasse consciência da verdadeira face de Deus; obrigou-o a recuperar a verdadeira idéia de Deus e, por conseguinte, a verdadeira idéia de povo eleito e de esperança messiânica.
Tratou-se de uma formulação teológica que chegava ao coração da espiritualidade de Israel. Tomemos algumas amostras deste grandioso amadurecimento espiritual, recorrendo ao profeta Ezequiel, na tradição sacerdotal (= P) e na redação final do Penteteuco, no Dêutero-Isaías e no livro de Jó.
a) A mensagem de Ezequiel. Ezequiel desempenhou seu ministério profético entre os exilados, em Babilónia, de 592 a 570 aproximadamente. A 16 de março de 598, Jerusalém capitulou diante do exército de Nabucodonosor. O jovem rei Joaquim, a rainha mãe, os altos oficiais e os cidadãos mais importantes foram deportados para Babilônia. Entre eles encontrava-se Ezequiel.
Ezequiel vive, pois, no exílio, em Babilônia. O contexto em que se encontra está carregado de problemas por exemplo: os exilados mantinham inalterável confiança nos destinos gloriosos do povo eleito; Jerusalém não será destruída, pensavam eles; o exílio terminará e poderemos voltar à terra prometida; Deus castiga, mas é fiel; foi assim que sempre agiu.
Poderia parecer atitude de fé; no entanto, era adesão ao passado e ilusão. Quando, mais tarde, em 586, Jerusalém e o templo foram destruídos, todos eles compreenderam que a esperança de retorno rápido não passava de ilusão. Neste momento, surgiu outro perigo: o desânimo e a desconfiança nas promessas de Deus. Será que o Senhor ainda se lembra do seu povo? Ainda é possível esperar alguma coisa? Havia, porém, outro dado:
os hebreus, na Palestina, estavam habituados a expressar sua vida religiosa, oferecendo sacrifícios no templo e celebrando a liturgia; agora, em Babilônia, logo se viram privados de todas estas possibilidades. Finalmente, é necessário acrescentar o sofrimento de se sentirem estranhos e sem raízes.
Muitos tentaram resolver a dificuldade integrando-se no novo ambiente, aceitando sua cultura, as formas sociais e, fatalmente, também as religiosas. Muitos perderam a fé; outros, em compensação, tiveram a coragem de permanecer fiéis à sua religião e à sua identidade;
constituíram o "resto" de Israel, sinal de Deus entre as nações.
Na situação descrita, Ezequiel estabeleceu como primeira obrigação orientar definitivamente os espíritos dos exilados para o futuro, libertando-os da tentação de voltar atrás. Para isto, foi desfazendo, uma após outra, todas as ilusões dos exilados. Primeiramente, o mito de Jerusalém:
Deus não está ligado a Jerusalém; e, em seguida, o mito da dinastia de Davi: Deus fez a promessa a Davi e à sua descendência, mas a promessa de Deus nunca está rigidamente vinculada à descendência carnal; finalmente, a última ilusão, o templo: a sorte de lahweh não está ligada a templo de pedra, não está ligada a nenhuma instituição. Tudo desapareceu; mas não se deve chorar.
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