quinta-feira, 26 de setembro de 2013

PAULO NÃO ERA PRISIONEIRO DE CÉSAR E NEN DE ROMA MAIS DE CRISTO EFESIO 3.1




Paulo não era prisioneiro de César ou de Roma, mas de Cristo (Ef 3.1; Fm 9). Os fatos que levaram-no a Roma não eram acidentais, mas desígnio divino (At 23.11). Assim como era necessário que o evangelho fosse anunciado em Jerusalém, a capital religiosa dos judeus, era indispensável que as boas-novas de salvação chegassem até Roma, a capital política do Império.

Desde o início de seu relato, Lucas descrevera o avanço do evangelho em Jerusalém (At 6.7), na Palestina (At 12.24), na Ásia Menor (At 16.5), e pela Europa (At 19.20). Nos capítulos finais de Atos dos Apóstolos, apresenta os fatos que cooperaram com a chegada e o progresso do evangelho em Roma. O livro de Atos, por conseguinte, apresenta o progresso do evangelho no mundo greco-romano, apesar das perseguições judaicas e da resistência dos incrédulos.

Atos dos Apóstolos encerra formando um arco do capítulo 9 a 28. Como já sabemos, Paulo era um vaso escolhido pelo Senhor (At 9.15). O Senhor Jesus esclareceu a Paulo, afirma Lucas, os propósitos de sua conversão (9.3-18; 22.6-21; 26.12-18):


a) conhecer a vontade de Deus (At 22.14);


b) tornar-se ministro e testemunha de Jesus para anunciar o evangelho (At 9.15; 22.15,21; 26.16-18); e


c) sofrer a favor de Cristo e do evangelho (At 9.16).


Esses propósitos cumpriram-se perfeitamente na vida e ministério de Paulo. Ele conheceu como nenhum outro a vontade de Deus (Rm 1.10; 2Co 1.1. 2Co 8.5; 1Ts 4.3); foi fiel ministro e testemunha de Jesus aos homens (At 13-28; 1Co 4.1); e sofreu por amor a Jesus e ao santo evangelho (1Co 4.11; 2Co 6.4-5; 11.23-28,32-33).



PAULO EM CESAREIA (AT 23.12 – 26.32)

Nesta seção, Fabris com muita perspicácia observa que Lucas pretende contrastar a hostilidade e ameaça mortal por parte dos judeus com a “cordialidade e ao mesmo tempo a firmeza do representante da autoridade romana” (1991:398). Enquanto os judeus pretendem matá-lo (vv.12, 24 – observe a conspiração nos vv.20-21), as autoridades envolvidas, Félix, Festo e Agripa, juntamente com o comandante e outros oficiais romanos “vigiam Paulo para protegê-lo das insídias dos judeus” (FABRIS, 1991:
398)
. Paulo, portanto, está mais seguro nas mãos dos gentios do que entre os patrícios judeus! Graças ao sobrinho de Paulo, o apóstolo não foi assassinado quando escoltado militarmente da fortaleza Antônia à sede do sinédrio. O propósito de Lucas é mostrar como as circunstâncias desfavoráveis cooperaram com a ida de Paulo a Roma e com o plano do Senhor revelado desde o capítulo 9. Deus está no controle providencial da História!

Para que Paulo se deslocasse de Jerusalém para Cesareia em segurança, uma escolta armada de 470 homens foi dispensada para protegê-lo no trajeto Jerusalém-Antipátrida. Essa escolta era formada por 200 soldados da infantaria com armas pesadas, 70 cavaleiros originários do Oriente Médio, e 200 lanceiros ou arqueiros (FABRIS, 1991:400).

Cesareia era a residência oficial dos reis herodianos e procuradores romanos na Judeia. Possuía palácios suntuosos, um anfiteatro e templos dedicados a César e a cidade de Roma. Habitavam em Cesareia muitos judeus, gregos, romanos entre outros povos. Nesta cidade, Paulo apresentou-se às principais autoridades de então: Félix, Festo e Agripa.

1. Paulo no tribunal de Félix (23.15 – 24.27). Por solicitação do tribuno Cláudio Lísias, Paulo foi enviado ao governador Félix. Devido os perigos que cercava o apóstolo, uma escolta de 470 soldados fora designada para protegê-lo no trajeto entre Jerusalém e Antipátride. Antonio Félix, procurador da Judeia em 52-53 d.C., é descrito na história como um homem cruel, injusto e dissoluto, entretanto, está disposto a ouvir Paulo e os difamadores judeus. Para esse debate, as autoridades


judaicas contratam o serviço especializado de um gentio, Tértulo, versado na arte da oratória. O nome latino Tértulo é diminutivo de Tertio, e, segundo Fabris, “se trata de um grego pagão que se põe a serviço de quem melhor paga sua habilidade dialética” (1991:4003). Podemos classificar esses discursos em: a) Requisitório de Tértulo (24.2-8); b) Defesa de Paulo (24.10-21); e Dilação de Félix (24.22).

Os judeus acusam Paulo de:

•baderneiro (uma figura subversiva e perigosa para a ordem pública);
•sacrílego (profanador de templos); e
•chefe da seita dos nazarenos (homem herege e faccioso que promove revoltas religiosas e políticas).
Paulo por sua vez, defende-se das acusações.


•Primeiro, Paulo não organizou nenhum motim, muito menos qualquer sedição. A viagem a Jerusalém era a de um adorador, peregrino devoto.

•Segundo, Paulo era um peregrino judeu trazendo esmolas para o seu povo e para cumprir ali os sacrifícios rituais (FABRIS, 1991:4005).

•Terceiro, Paulo não é um dissidente da religião judaica, mas encontrou em Cristo, o Ressuscitado, o verdadeiro cumprimento e realização histórica e religiosa do seu povo.
Félix entendendo que se tratava de assuntos religiosos aguarda melhores esclarecimentos, entretanto, sua intenção era extorquir a Paulo. O apóstolo evangeliza Félix e Drusila, no entanto, apesar de ser inocente, permanece dois anos presos, pois a intenção de Félix era agradar aos judeus.

2. Paulo no tribunal de Festo (25.1-17). Pórcio Festo sucedeu a Félix no caso dos judeus contra Paulo. Entre os historiadores, Festo é descrito como astucioso, rápido nas decisões, e enérgico. Depois de não ceder aos apelos dos judeus, que desejavam que Paulo fosse julgado em Jerusalém a fim de que o matassem durante o trajeto, Festo ouve a Paulo e os reclamantes judeus. Todavia, a disputa não tem qualquer desfecho, uma vez que Festo quer agradar as autoridades judaicas. Entendendo que nada seria resolvido, Paulo apela para César.

3. Paulo diante do rei Agripa (25.18 – 26.32). Essa é a terceira defesa de Paulo perante as autoridades romanas. Festo apresenta o caso ao rei Marcos Júlio Agripa II, e a Berenice, irmã consanguínea de Agripa e irmã mais velha de Drusila, esposa de Félix. Entretanto, adverte que excetuando as questões religiosas, não há nada pela qual Paulo deva ser condenado, segundo as leis romanas.


Todavia, era da vontade do Senhor que Paulo, depois de testemunhar diante de governadores e políticos importantes, agora, anunciasse o evangelho ao rei. O último discurso de Paulo antes de partir em direção a Roma divide-se em: a) Introdução (26.1-3); b) biografia (26.4-7); c) Conversão e vocação aos gentios (26.9-18); d) Missões e perseguições dos judeus (26.19-23); e) Reação de Festo e Agripa (26.24-32). Nesse discurso, Paulo dirige-se especificamente a Agripa, defende-se dos ataques judaicos, testemunha de sua conversão, fé e missão entre os gentios e ainda evangeliza o rei. Tudo conforme a providência divina.

VIAGEM DE PAULO A ROMA (AT 27.1 – 28.10)

1. Rumo à Itália (27.1-44). Havendo apelado para César, Paulo segue, por via marítima, de Cesareia para Roma. Embarca em um navio em direção à Itália sob a tutela do centurião Júlio e de uma escolta militar, juntamente com alguns presos políticos. Além da presença de Lucas, o médico amado, está presente um amigo de Paulo, cristão macedônio, chamado Aristarco (ver 19.29; 20.4; Cl 4.10; Fm 24). Diante de todas as dificuldades enfrentadas pelo apóstolo, Deus concedeu-lhe amigos fieis, como diz Provérbios, “na angústia nasce o irmão” (Pv 17.17; 18.24).

Além disto, o centurião também trata o “prisioneiro do Senhor” com humanidade e lhe permite visitar a igreja em Sidom. Assolado pelos fortes vendavais, o navio segue lentamente até chegar a Mirra, na Lícia. Desta cidade, partem em direção a Itália em um navio procedente de Alexandria. Antecipando-se aos perigos que os surpreenderiam na viagem, Paulo adverte-os, mas em vão. O centurião crê mais no timoneiro do que em Paulo. É assim quando se confia mais na capacidade humana do que na orientação que procede do Senhor: o navio sempre naufraga. Contudo, Paulo assegura aos tripulantes que nenhum deles morrerá.

2. Paulo em Malta (At 28.1-10). Na ilha de Malta, ao sul da Sicília, Paulo e os demais foram tratados com extraordinária bondade pelos nativos. Nesse local, três episódios milagrosos acontecem: Paulo permaneceu imune após o ataque de uma víbora; a cura do pai de Públio, magistrado local; e a cura de diversos ilhéus. Nos três eventos, o nome de Jesus foi glorificado e o evangelho anunciado com poder e milagres.

3. Paulo chega a Roma (Mt 28.11-15). Após três meses, Paulo partiu para Roma com todos os suprimentos necessários. Passou por Siracusa, Régio e Putéoli. Nessa cidade italiana, por solicitação dos irmãos locais, hospedou-se por sete dias. Depois se dirigiu à Praça de Ápio e às Três Vendas para encontra-se com alguns irmãos procedentes de Roma. Mais uma vez, o encontro com os irmãos ajudou-lhe a recobrar o animo. Solitário, acorrentado e prisioneiro, Paulo encontrava nas palavras dos irmãos a esperança que nutria sua viagem. Paulo chega a Roma que, na época, tinha mais de um milhão de habitantes.

O EVANGELHO PROPAGA-SE EM ROMA (AT 28.16-31)

1. Prisão domiciliar (28.16). A prisão domiciliar era uma concessão aos detidos não acusados de crimes capitais. A custodia militaris, como era chamada, permitia que o prisioneiro morasse por conta própria numa casa alugada, no entanto, vigiada por um soldado. Para garantir ainda mais a segurança, uma corrente era presa ao pulso direito do prisioneiro e ao braço esquerdo do guarda. Paulo possuía liberdade de movimento para escrever, receber os irmãos, entre outras atividades, muito embora estivesse cativo.

2. Apologia entre os judeus (28.17-22). Estabelecido em sua prisão domiciliar, Paulo convoca os líderes judeus para explicar-lhes os eventos e motivações que o levaram cativo à cidade. Embora os judeus considerassem-no culpado, as autoridades romanas não encontrava qualquer crime para mantê-lo preso. Contudo, apelara ao tribunal do imperador para livrar-se da oposição e julgamento dos judeus. Não era a culpa que o levara a Roma, mas sua inocência.

3. Progresso do evangelho em Roma (28.23-31). Roma era a mais importante cidade cosmopolita daqueles dias e conhecida, principalmente, pela frouxidão moral e relativização dos costumes. As mais variadas crenças, rituais e religiões estrangeiras eram toleradas pelos romanos. Havia pessoas de todas as raças e costumes. Era um centro de cultura literária, econômica, política e religiosa.

Terra dos grandes oradores, políticos, guerreiros e juristas. A região ideal para propagar o evangelho às partes mais longínquas do mundo. Lucas conclui o programa missionário de 1.8, “... ser-me-eis testemunhas...até os confins da terra”, ao descrever a estadia de dois anos de Paulo em sua prisão domiciliar “pregando o Reino de Deus e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum”.

O livro de Atos dos Apóstolos termina sem concluir definitivamente a história que se propôs a narrar. Nada é dito a respeito do julgamento de Paulo pelo tribunal romano. Era intenção de Lucas escrever um terceiro volume? Nada pode ser dito com absoluta certeza. Porém, sabemos que é responsabilidade da igreja moderna continuar a obra inacabada de Atos dos Apóstolos.

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