imprensa escrita usa para os seus entrevistados, cujo texto se anexa.
Entrevista ao Profeta Amós
Entrevistador: O que o levou a abandonar a sua profissão mais tranquila e tornar-se um profeta em Israel?
Amós: Efectivamente eu não era profeta, nem filho de profeta, mas boieiro, e cultivador de sicómoros (Amós 7:14
), mas o Senhor me tirou de após o gado, e o Senhor me disse: Vai, e profetiza ao meu povo de Israel (Amós 7:15). Senti a responsabilidade do anúncio da palavra do Senhor, perante as condições sociais de exploração e injustiça em que o meu povo vivia e não podia calar a minha voz, nem tão pouco desobedecer à voz do Senhor.
Entrevistador: Mas como é que se apercebeu do que o povo desejava e quais as suas reclamações?
Amós: Apercebi-me das condições miseráveis, em que o meu povo vivia, porque os comerciantes e homens de negócio, com quem eu negociava, devido à minha própria actividade profissional, falavam em como procuravam abater o necessitado e destruir os miseráveis da terra, que sendo pobres, ainda ficavam mais pobres (Amós 8:4).
Reparei ainda na falsa religiosidade em que viviam, mas no íntimo desejavam que a lua nova, a nova religião exterior que adoptaram, viesse depressa, para poderem vender o grão dos cereais que produziam e revendiam por elevados preços. Realmente adoptavam uma postura verdadeiramente pagã, porque a lua nova não era a verdadeira religião do meu povo, mas sim dos povos idólatras, nossos vizinhos, que corromperam a nossa verdadeira religião. (Amós 8:5)
Entrevistador: Mas acha, na sua opinião, que tudo isto teve muito peso na sua decisão em anunciar o castigo que o Senhor apresentou por seu intermédio?
Amós: Não foi só isto que me deixou incomodado e feriu a minha sensibilidade. Havia toda uma classe de ricos e poderosos que viviam do luxo e fausto, mas à custa dos pobres. Estes morriam de miséria e não havia ninguém que os ajudasse, nem a classe sacerdotal levantava um dedo para os auxiliar ou denunciar a situação imoral e dura em que o direito dos pobres era desprezado. Era mais que evidente e visível que havia uma clara distinção entre os dois grupos: os “oprimidos” e “os que amontoam opressão e rapina” (Amós 3:9/12)
Entrevistador: Havia outros sinais de decadência moral entre os ricos e os poderosos na sociedade, que também o incomodassem?
Amós: Esse era o problema. A cupidez e falta de consciência da classe rica e poderosa, já não via e sabia distinguir entre a mão direita e a mão esquerda (Jonas 4:11). Perderam toda a sensibilidade. O Senhor tinha de agir a favor dos pobres, para que não desaparecessem da terra e o seu clamor tinha chegado ate ao trono do Senhor.
A ignorância dos poderosos era tal, que não se apercebiam que eles próprios seriam atingidos pela miséria e não seriam poupados a ela. Eles próprios eram os causadores de toda a miséria. Como servo do Senhor não podia calar a minha voz.
Entrevistador: Não acha que a sua rudeza e frontalidade poderia pôr a sua vida em perigo, em face da denúncia que revelava, ao mesmo tempo, uma provocação aos ricos?
Amós: Na realidade, eu esperava isso e acabei por ser expulso do país. Até o Sacerdote Amasia, representando a religião oficial (Amós 7:10) tomou parte na conspiração contra mim, junto do rei Jeroboão, para manter o politicamente correcto, agradar ao rei e manter o seu lugar de sacerdote.
Não deixa de ser surpreendente essa atitude do representante máximo da religião, o que demonstra até que ponto se havia perdido a noção da justiça. E, como é usual nestas condições, encontraram um falso motivo político para calarem a minha voz.
Entrevistador: Na sua percepção religiosa e social, acha que Deus esteve e está envolvido nesta situação do povo? Acha ainda que Deus que vive tão distante se incomoda pelos negócios dos homens?
Amós: A minha percepção é que a voz do Senhor se fez e continua a fazer ouvir desde o seu Trono de Sião (Amós 1:2). Deus está atento às injustiças deste mundo e não permite que os pobres sejam marginalizados na terra que Ele criou, bem como ao homem que Ele criou à sua Imagem e Semelhança.
Deus sabe ver por dentro da capa da prosperidade dos povos, o seu coração e a sua verdadeira situação espiritual (Amós 5:12/21). O Senhor vê a imoralidade e a corrupção dos homens e até nos cultos o povo pode ser perverso (Amós 2:7/8). Deus está vivamente interessado na justiça social. Não vive só no formalismo dos cultos que lhe são prestados. Ele preocupa-se com o bem estar dos povos.
Deus rejeita cultos que não respeitem a justiça e a sinceridade no relacionamento entre o povo (Amós 5:21/27). Eles muitas vezes não se apercebem da justiça divina, mas ela está sempre presente em toda a actividade humana e o castigo vem devido aos próprios actos (Amós 6:7)
Entrevistador: na sua visão de Deus, acha que pode haver esperança para o povo, após verdadeira conversão e implantação de justiça para todos?
Amós: Sem dúvida. Essa esperança é a pedra de toque da minha fé. Deus restabelecerá o trono de David e o povo será chamado a renascer e a viver uma vida completamente redimida, numa afirmação da bondade de Deus, porque Ele está sempre presente na história dos homens e das mulheres (Amós 9:11/15)
Entrevistador: Gostaria de dar alguns conselhos aos nossos leitores, que servisse a todas as gerações e em todos os países?
Amós: Certamente que sim. Esta é a minha função de profeta. A minha voz está ao serviço de Senhor. A mensagem de Deus é que pratiquem a justiça em todo os actos da vida, porque ela é uma parte importante da Sua mensagem (Amós 5:15)
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